sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

CREIO…MAS NÃO ACREDITO

O Credo Apostólico e algumas de suas desconstruções e distorções na igreja pós-moderna.

Creio em Deus Pai Todo-Poderoso criador do céu e da terra…
Mas não acredito no deus coadjuvante da teologia da prosperidade, o deus desesperado procurando agradar para ser aceito, como alguém com problema de auto-estima. Também não creio no deus totalmente submisso de algumas teologias em voga, um deus refém do nosso livre-arbítrio. Ou ainda, um deus que não é soberano para quem o futuro é tão incerto quanto para qualquer um de nós, por isso nos chama para uma parceria nessa construção do futuro.

Creio em Jesus Cristo, Filho unigênito…
E em seu ministério terreno: “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo e nos confiou a palavra da reconciliação” 2Co.5.18.
Mas não acredito, e me recuso a fazer parte da confraria dos pregadores sem dono. Esses mesmos que saem por aí com uma Bíblia, uma toalhinha, uma roupa chamativa e um monte de frasesinhas feitas (digo ocas) na cabeça (idem). Cheio de motivações torpes, dentre as quais se destaca o avivamento “caça-níquel-com-prazo-de-validade”. A Bíblia, mero detalhe… A toalhinha faz parte da performance, no fim das contas a mensagem é só para garantir o retorno nas próximas festas, e a oferta, bom deixa pra lá…

Creio no Espírito Santo…
E na continuidade de seus dons e na distribuição conforme lhe apraz. Mas não acredito nas “profetadas”, coisa mais patética! Às vezes infestam nossos cultos “sem poder” (digo o culto) da forma mais monótona. Antigamente havia pelo menos certo “clima”, não importa se era forjado (digo o clima), hoje não tem nem clima vai à seco mesmo, é só começar um “zum-zum-zum” e lá está o tal profeta “eis que digo: tenho me agradado…” do que ? Perguntar não ofende…

Creio na Santa Igreja universal…
Mas não acredito na igreja que rompeu de vez com o sagrado, cujo culto está mais para programa de auditório, às vezes até daqueles bizarros, adorando o grande “deus entretenimento”, como bem disse A.W.Tozer. Também não acredito na igreja imperial que vive somente para se manter ou manter a cúpula, no fim é a mesma coisa. Não creio na igreja que perdeu o propósito de ser “coluna e esteio da verdade” para ser mais uma divulgadora dos best-sellers de auto-ajuda, ao invés de buscar ajuda do alto. Não acredito nas igrejas de nomes imponentes, que só expressam a megalomania dos seus lideres, puro marketing!

Creio na comunhão dos santos…Sim, creio na comum unidade da Igreja, mas não acredito na comunidade das picuinhas intermináveis, sempre pelos motivos mais banais, claro, gente rasa não briga por coisas profundas. Os conteúdos estão fora de qualquer questão, o que incomoda mesmo são as aparências, os rótulos e os formatos. Como bem cantou João Alexandre “ali ninguém conhece a essência, tão somente a aparência de viver em comunhão”.

Àquele que não nos confunde seja a Glória para Sempre!

BOM PARA REFLETIR

Tentações de um pregador pós-moderno - 08/11/2007
Ednilson Correia de Abreu

Nestes tempos de massificação evangélica, de febre pelo crescimento acelerado, da identificação de sucesso eclesial e ministerial via crescimento numérico criando uma identificação perigosa de vitória espiritual com números sempre crescentes, da busca de platéias cheias e empolgadas, da busca intensa pelo sentir em detrimento do pensar, refletir e agir. O pregador destes tempos pós-modernos, quase ultra-modernos, está exposto há algumas tentações que não diria serem novas, mas afirmo estarem mais exacerbadas hoje.


O mundo evangélico atual é muito competitivo, no sentido negativo do termo, a linguagem “marketeira” e psicológica invadiu a igreja e assim ele acaba absorvendo também muitos valores seculares do mundo bussiness e “terapêutico’”.


Nesta atmosfera o pregador acaba sendo tentado em algumas direções perigosas que quero destacar nesta reflexão para fins de análise.

A tentação de produzir o miraculoso - Sabemos que qualquer efeito considerado além do normal produz um impacto quase instantâneo nas massas, o pregador pós-moderno se vê tentado a produzir ele mesmo evidências do miraculoso em sua ministração, através de uma atmosfera estrategicamente preparada: luzes, sons, palavras chaves, gestualismos excêntricos, e ênfases proclamadas aos gritos, além de intensas expressões emocionais podem gerar uma aparência de miraculoso altamente atraente àqueles que desejam autenticar sua pregação com “sinais” miraculosos. Levando o pregador muitas vezes a buscar a qualquer custo derrubar uma meia dúzia e atirar “revelações” a esmo, para de todas as formas “ganhar alguns”.
Produzindo assim a imagem de um homem acima dos outros homens.

A tentação do sensacional – muito próximo a anterior, com a diferença de que neste caso o pregador parece mais um "showman", com performances teatrais às vezes extremas, onde pelo seu carisma pessoal ele consegue manter a adrenalina do povo em alta, mantendo um intenso controle das ações com atos espetaculosos como saltos, gritos e uma oratória peculiar, levando a platéia do delírio ao silêncio total sob o seu comando. Gerando expectativas de que há qualquer momento o céu pode se abrir e o arrebatamento pode ocorrer somente naquele lugar.
O sensacionalismo atrai multidões e o pregador se apresenta como detentor do controle total capaz de conduzir as massas em qualquer direção.

A tentação do poder inusitado – é a busca de se estar sempre trazendo algo novo pela necessidade de se manter o povo interessado na última novidade capaz de levá-los aos limites das “bênçãos” celestiais. Um novo tipo de unção, um novo tipo de campanha, um novo tipo de pregador e pregação e etc. A apresentação de uma conexão direta com os seres angelicais e de um conhecimento das hierarquias nem biblicamente reveladas. Um esoterismo "gospel" ganha espaço, apresentando o pregador como uma figura inusitada capaz de trazer algo nunca antes conhecido, nem mesmo pelos apóstolos bíblicos. O inusitado muitas vezes beira o grotesco, mas se firma por se apresentar como novo, pois no inconsciente da comunidade se algo é visto como velho vê-se como fraco, ultrapassado e ineficaz.

O pregador é visto como o responsável por sempre criar um novo efeito e trazer algo inusitado a qualquer custo, pois na paróquia ao lado algo “novo” pode estar acontecendo.

A tentação dos atalhos imediatistas – é a busca de soluções rápidas para grandes questões na vida, crescimento espiritual instantâneo, santidade plena em um só encontro de fim de semana, autoridade máxima em uma campanha de poder, ordenação pastoral em 24 lições. Em fim não há tempo a perder, vivemos na era do fast-food, e a igreja precisa correr contra o tempo, atalhos são buscados e a confusão está feita.
Ignora-se que Deus trabalha através de processos na nossa vida, e que o próprio processo faz parte do seu sábio agir.
A clonagem já existe no meio evangelho há muito tempo, basta olhar como são produzidos em série alguns pregadores hoje, onde os trejeitos, gestos e até defeitos físicos são imitados dos seus líderes maiores, como se isso fosse parte do segredo e da busca do sucesso ministerial.
Os pregadores buscam segurar as pessoas através de processos rápidos de assimilação eclesiástica, pois o “mercado” é feroz. Gerando atalhos imediatistas perigosos e igrejas cheias de superficialismo.

A tentação do relativismo teológico – um relativismo inconseqüente cresce a cada dia. Tendo em vista a liberdade e a fragilidade para a formação de perspectivas de temas como a pessoa de Deus, a igreja, a vida cristã e outros temas chaves da fé. Não há muito ensino, Há muita emoção, o nível de emoções sentidas acaba se transformando no padrão de qualidade da fé. O conteúdo da fé muitas vezes acaba ignorado. O mais importante passa a ser os sentidos não os pensamentos. Acaba tudo ficando no mundo relativo daquilo que cada crente acha, a partir de seu sentir, levando o pregador a referendar o seu sucesso pelo poder que ele tem de arrancar expressões bastante emocionais do povo a ele exposto e não pelo nível de transformação de vida que a experiência de vivencia compreensiva da fé pode produzir. Verdade e erro se misturam, produzindo gerações de crentes confusos e até supersticiosos.

A tentação do status vocabular – as palavras têm peso, elas são ferramentas ou símbolos que usados estrategicamente produzirão resultados bem específicos. Um adjetivo ou verbo colocado dentro de determinados contextos trazem em si uma carga de significados capaz de gerar reações e respostas bastantes características dentro do momento e ambiente em que são utilizadas. Daí a proliferação de expressões como:
“Eu profetizo...” Pois isso causa mais impacto do que dizer: “eu desejo que...”; “eu determino...”, pois é mais forte do que: “eu oro para que...”.
A popularização de títulos eclesiásticos como apóstolos, (já ouvi falar até em apóstolo arcanjo), soam mais fortes do que simplesmente pastor.
Estas expressões produzem status, um status vocabular por se estabelecerem através do uso dos símbolos/palavra em um contexto sensível a receber o impacto que a palavra/símbolo tem como ferramenta de comunicação.
Neste contexto o pregador se vê usando jargões que ele mesmo não entende suas implicações, mas o faz pelo modismo que se estabeleceu e pela autoridade que lhe parece auferir.

Faço estas observações com o fim de nos levar a pensar no empobrecimento e perigo que corremos quando nos afastamos da simplicidade do evangelho e nos deixamos enredar pelos apelos tentadores e estranhos que o mundo nos faz.
Estas tentações e outras estão por ai todos os dias, a nos convidar, como pregadores, a que nos desviemos da rota de levar pessoas ao conhecimento de Cristo e a crescerem à sua semelhança no contexto de igrejas sadias que cresçam de verdade em todos os aspectos e direções o crescimento que vem de Deus e não por ações artificialmente engendradas, alimentadas por tentações como as acima citadas.
Sejamos pregadores bíblicos que anunciam o evangelho ao mundo em todas as suas épocas, não sejamos pregadores de épocas que anunciam ao mundo uma mensagem truncada, travestida de evangelho.

Entre tantos conselhos preciosos, Paulo nos lembra que a prevenção para não cairmos nestas tentações listadas acima, passa pelo cuidado com a nossa própria vida com Deus e pelo zelo daquilo que ensinamos (doutrina), conforme Paulo fala a Timóteo dizendo:
“Atente bem para a sua própria vida e para a doutrina, perseverando nesses deveres, pois, agindo assim, você salvará tanto a si mesmo quanto aos que o ouvem.” (1 Tm 4.16 NVI) E pela dependência do poder que deve permear todo o nosso ministério, conforme testemunha o mesmo Apóstolo afirmando:
“Minha mensagem e minha pregação não consistiram de palavras persuasivas de sabedoria, mas consistiram de demonstração do poder do Espírito, para que a fé que vocês têm não se baseasse na sabedoria humana, mas no poder de Deus.”(1 Co. 2.4-5).

Precisamos ser pregadores corretos e poderosos, que edificam igrejas poderosas e equilibradas, marcadas pela presença e pelo agir soberano de Deus.

Que o Senhor tenha misericórdia de nós e nos abençoe.

Ednilson Correia de Abreu é Pastor da Primeira Igreja Batista em Ecoporanga-ES.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Calvinismo Leva ao Universalismo

Roger E. Olson

Está bem, talvez o Calvinismo não leva ao Universalismo inexoravelmente – como se todo calvinista devesse tornar-se um universalista. Entretanto, muitos teólogos universalistas proeminentes são/eram reformados e criam que seus conceitos calvinistas da soberania de Deus os compeliam finalmente a abraçar o Universalismo.

Dois notáveis exemplos vêm à mente: Friedrich Schleiermacher e Karl Barth. Sim, eu sei que alguns reformados rejeitarão um ou ambos – como não verdadeiramente reformado. Entretanto, alguém não consegue ler The Christian Faith de Schleiermacher e não perceber seus vigorosos princípios calvinistas. Para Schleiermacher Deus é a realidade toda-determinante e é por isso que ele rejeita a oração petitória – porque ela implica que Deus já não sabe o que é melhor. Para Schleiermacher, qualquer coisa que esteja acontecendo, incluindo o pecado e o mal, foi preordenado e tornado certo por Deus.

Schleiermacher abraçou o Universalismo porque ele não conseguia reconciliar o Deus de Jesus Cristo todo-determinante com o inferno. Se Deus é amor e todo-determinante, devemos concluir que há um propósito amoroso para tudo que acontece. Se Deus é o autor do pecado e do mal, então a punição eterna de pecadores no inferno é injusta. Schleiermacher o calvinista percebia a questão claramente e tirou a única conclusão lógica de sua elevada visão do amor e soberania de Deus.

Apesar de todas as suas diferenças de Schleiermacher, Karl Barth seguiu o mesmo caminho básico do Calvinismo ao Universalismo. Eu sei que alguns estudiosos de Barth não creem que ele foi universalista e que ele não adotou esse rótulo. Mas eu creio que o Universalismo está implícito em sua doutrina da eleição na qual se diz que Jesus é o único homem reprovado. Barth notoriamente declarou que nosso “não” a Deus não pode resistir ao “sim” de Deus a nós em Jesus Cristo. Para Barth, Deus é “Aquele que ama em liberdade”. Deus é também todo-determinante em sua soberania. Barth chamava sua soteriologia de “supralapsarianismo purificado” – purificado do inferno, mas todavia supralapsário! Barth percebia corretamente que a lógica interna do Calvinismo deve levar ao Universalismo SE ele levar a sério o amor como natureza de Deus.

A única maneira de um calvinista evitar o Universalismo é transformar Deus em um monstro moral que para sua própria glória condena ao inferno pessoas que ele poderia salvar. Uma vez que você entende, entretanto, que o inferno é totalmente desnecessário porque a cruz foi uma revelação suficiente da justiça de Deus, o inferno torna-se não apenas supérfluo, mas completamente injusto.

Digo algumas vezes que SE eu pudesse ser universalista, eu poderia ser calvinista. Bem, eu ainda teria o problema da responsabilidade humana. Mas meu ponto é que eu não me importo com o livre-arbítrio exceto na medida em que ele é necessário para explicar por que um Deus de amor permite que algumas pessoas pereçam eternamente. Se eu pudesse crer que Deus salva a todos incondicionalmente, que é o que eu penso que Barth cria, eu poderia ser calvinista. Uma razão de não poder ser calvinista é porque ser calvinista exigiria de mim que eu lançasse fora todos os textos bíblicos sobre o inferno porque eu não teria interesse em até mesmo ser cristão se o Deus do Cristianismo fosse um monstro moral.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010