sexta-feira, 9 de julho de 2010

AS ORIGENS DO CALVINISMO

Jack Cottrell[2]



O Calvinismo não se originou de João Calvino (1509-1564), nem a sua alternativa, o Arminianismo, se originou de Tiago Armínio (1560-1609). Estes dois termos têm sido utilizados para pontos de vista opostos (quando defendidos) da realidade ou não de um pecador ter o livre arbítrio para acreditar em Jesus quando ele ouve o evangelho. Outras coisas estão envolvidas, mas este é o divisor de águas entre as duas posições. Basicamente, o Calvinismo diz que o pecador não tem tal livre arbítrio; o arminiano diz que ele tem.



Nos três primeiros séculos da Igreja, a visão do livre-arbítrio era tudo que existia. O que hoje é chamado Calvinismo realmente veio de Santo Agostinho (354-430), que introduziu a primeira doutrina abrangente do pecado original. De acordo com Agostinho, o pecado de Adão levou todos os seus descendentes naturais a nascerem em um estado de depravação total. Isto é equivalente à escravidão da vontade, ou a perda da capacidade de escolher o bem – especialmente a capacidade de escolher aceitar o evangelho, quando confrontado por ele.



Uma vez que Agostinho inventou o conceito da depravação total universal, era natural que ele desenvolvesse o restante do sistema calvinista chamado TULIP, especialmente aquelas doutrinas que logicamente decorrem da escravidão da vontade: Eleição Incondicional, Graça Irresistível e Perseverança dos Santos. Assim, o “Calvinismo” nasceu, há mais de um milênio antes do próprio Calvino.



Durante a Idade Média, ambas as visões co-existiam dentro do amplo contexto da Igreja Católica. Quando ocorreu a Reforma, o Catolicismo em geral abraçou o livre arbítrio, porém os principais reformadores – Martinho Lutero (1483-1546), Ulrich Zwinglio (1484-1531) e João Calvino – abraçaram o sistema agostiniano construído sobre a doutrina da escravidão da vontade. Para eles, a ausência do livre-arbítrio era devida, não apenas à conseqüência do pecado de Adão, mas também à própria natureza da soberania divina.



Para Lutero, a onipotência e pré-conhecimento de Deus absolutamente descartam qualquer possibilidade de livre-arbítrio. Esta combinação “nocauteia o ‘livre-arbítrio’, e o destroi totalmente”, disse ele.[3] Zwinglio declarou que Deus é a “única causa real” de tudo que tem a ver com os seres humanos,[4] incluindo os seus pecados: “Nem mesmo a obra do pecado parte de qualquer outra pessoa a não ser Deus”.[5]



A visão de Calvino não era diferente. Ele disse: “O mundo é tão governado por Deus, que nada é feito nele, senão por seu secreto conselho e decreto.”[6] Isto se aplica até mesmo ao pecado: “O que nós sustentamos é que, quando os homens agem perversamente, eles assim fazem... pelo propósito ordenado de Deus”.[7] Isto se aplica ao primeiro pecado: “Eu, assim, afirmo que Deus ordenou a queda de Adão”.[8]



Na Reforma continental os únicos defensores do livre-arbítrio foram os da Reforma Radical, especialmente os anabatistas. No século XVII o próprio Armínio defendeu a visão há muito sustentada do livre-arbítrio, e seu nome ficou ligado a ela. No século XVIII, John Wesley formulou uma importante versão dela conhecida como Arminianismo Wesleyano. Muitos indivíduos e grupos hoje (incluindo o Movimento da Restauração) sustentam um sine qua non do Arminianismo, ou seja, o livre arbítrio. Eles discordam em muitas outras áreas, não obstante.



A visão agostiniana/calvinista criou raízes sólidas nos séculos XVI e XVII. Foi enunciada em vários credos importantes, incluindo o Catecismo de Heidelberg (1563) e, especialmente, a Confissão e os Catecismos de Westminster (1647-1648). Um advogado importante no século XVIII foi Jonathan Edwards (1703-1758). Nos séculos XIX e início do século XX, o ponto de vista foi defendido pelo grupo da Velha Princeton (Old Princeton),[9] incluindo A. A. Hodge, Charles Hodge, B. B. Warfield e J. Gresham Machen, bem como por teólogos reformados holandeses como Abraham Kuyper e Herman Bavinck. Os nomes de Louis Berkhof, John Murray e H. Gordon Clark também devem ser mencionados aqui.



Os principais escritores calvinistas da atualidade incluem R. C. Sproul, Bruce Ware, John Frame, D. A. Carson, James R. White, Robert Reymond, John Piper, Wayne Grudem, e John Feinberg.



A maioria das denominações e igrejas conservadoras (que crêem na Bíblia), usando o nome presbiteriano são calvinistas, assim como são todas as denominações e igrejas conservadoras com a palavra reformada em seu nome. (“Teologia reformada” é rigorosamente equivalente a Calvinismo.) O Calvinismo também tem uma forte presença em muitos grupos batistas e entre igrejas independentes.



Tradução: Cloves Rocha dos Santos

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